Página Autobiográfico

Introdução sobre a proposta da seção Autobiográfico

Meu primeiro contato com o uso da autobiografia como recurso de criação teatral se deu como estudante da 15ª turma do Núcleo Experimental de Artes, um programa essencial para os rumos da minha vida e que, na época, era coordenado pela atriz, professora e pesquisadora Miriam Rinaldi. O Núcleo, como chamamos afetivamente, é um programa que permite a jovens artistas da cena aprofundar e ampliar o repertório de criação, a partir de uma investigação dos diferentes graus de atuação. O curso conecta diferentes artistas, de diferentes áreas da cena teatral, para ministrar os módulos: Persona, Personagem e Narrador.

No eixo Persona, os encontros - e enfrentamentos autobiográficos - foram com a professora Janaína Fontes Leite. A proposta de usar registros de vida para a criação de cenas teatrais me encantou. Na época, a experiência impactou muito o meu corpo, o corpo de um jovem da periferia.

Em um exercício, levei um vídeo meu bebê gravado pelo meu pai, com quem não tenho contato. A cena/relato/performance era marcada pelo texto Carta ao Pai, de Franz Kafka, e contava com uma música da cantora Alice Caymmi, intitulada Antes de tudo. Ao fundo, o vídeo do bebê-eu me mostrava dentro de um "chiqueirinho", brincando com bexigas.

No ambiente físico, eu também brincava com as bexigas, escondendo-as e estourando dentro de uma grande camiseta, que sinalizava a minha infância com obesidade. Como Janaína sintetiza em sua dissertação de mestrado, trata-se de encontrar na experiência de uma criação autobiográfica o espaço de sua própria reelaboração, abrindo possibilidades para verdadeiros saltos de ‘experienciação’ e simbolização do self. O sentimento de experienciar a mim mesmo em cena, em meio ao coletivo, está na base da oficina.

Aqui você poderá assistir excertos* de experiências de participantes em ação e dos lugares pelos quais a oficina passou. Compondo momentos registrados com a câmera do celular durante os encontros ou em gravações feitas por participantes ou terceiros para exercícios, o autobiográfico na experiência digital ganha um novo significado, relacionando momentos distintos vividos com exercícios propostos que, juntos, traduzem a relevância do experienciar a si mesmo em cena.

A cada vídeo, convido você a imaginar o antes e depois que geraram os momentos registrados de forma improvisada ou encenada, mas, para todos os vídeos, desejo que, principalmente, sintam um pouco da história de quem faz a oficina acontecer. Guiem o olhar de vocês para imaginar o mundo interno de cada pessoa. É neste mundo interno que reside o precioso museu de cada participante e sua autenticidade.