Página Museu
Perceber o deslocamento sentido por pessoas residentes de regiões consideradas periféricas ao visitar museus enquanto trabalhava como mediador no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, me fez pensar na criação de uma oficina/espaço possível para fortalecer memórias da minha região, memórias do lugar de onde vim:
Ermelino Matarazzo, periferia da Zona Leste de São Paulo.
Mas o que é um Museu?
Para fixar o que a oficina propõe ao criar um Museu de Si/Nós, compartilho abaixo o meu aprendizado no curso Experiências Educativas em Museus Comunitários, durante aula intitulada Museu de Nós - nova museologia social no Brasil (Escola Fundação Itaú).
"Museus são instituições de memória de um país, que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento."
BRASIL. Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009.
Do reconhecimento de que quanto mais diversidade, menor o risco de as memórias serem hierarquizadas e tratadas como inferiores e insignificantes para os rumos da história, emerge uma nova museologia.
No contexto de uma nova museologia, nasce a museologia social, materializada nos museus sociais, comunitários ou de favelas e nos ecomuseus, entre outros. O que eles têm em comum é uma ação educativa que coloca indivíduos de áreas rurais, periféricas e à margem como sujeitos que interagem com as coleções, os espaços e as palavras ditas e silenciadas.
Nos museus sociais, os moradores são inventariantes do patrimônio cultural da comunidade, perguntando-se continuamente: "Quem não está aqui?", "Quais vozes nos faltam ouvir?". Eles tornam-se pontos de alerta para as comunidades, um jeito de não esquecer o passado e de ser ativo na invenção do futuro.
O poder da palavra Museu para a oficina
Com o objetivo de aproximar histórias, reforçar o potencial artístico presente na periferia e possibilitar ao público a ressignificação sobre o que seria um museu, a palavra presente no título da oficina foi a maneira encontrada para gerar pertencimento a um espaço visto até hoje como elitizado, eurocentrado e concentrado em regiões da cidade distantes de grande parte da população.
Em outras palavras, quem participa desse museu pode se sentir pertencente e mesmo parte de sua construção, em contraste com a lógica dos museus tradicionais, que ainda operam como dispositivos de ordenação social, apagamento de memórias marginais e validação de uma cultura hegemônica.
Ao propor um novo olhar sobre o que é um museu, um movimento de descolonização e decolonização é estabelecido, confrontando narrativas, ressignificando objetos e ampliando visões e histórias individuais que, quando apresentadas coletivamente, ressignificam a história de um bairro ou cidade.
Partindo da simbologia que a palavra carrega, o projeto surge como uma oportunidade de deslocar sentidos e positivar experiências, fazendo com que as pessoas participantes percebam que,assim como o corpo é a casa, o museu pode ser uma composição da própria história, a história de uma família, de um bairro, de uma cidade.






O Museu de Nós
Ao ter como ponto de localização o próprio corpo em seu espaço territorial, é possível reunir objetos, textos, sons, memórias, ideias, devaneios e expor, seja em uma cena ou texto o que foi ali produzido.
O museu então ganha um sentido novo. A oficina carrega o desejo de que, quando pessoas - afastadas do que é visto como “centro” - estiverem em espaços museais, consigam, em primeiro lugar, dar sentido ao espaço sabendo que podem e devem fazer parte dele para que, em segundo lugar, apreciem e experienciem uma visita em um espaço cultural.
Com a proposta de exercícios em diversas linguagens (texto, cena, fotografia, performance), o museu autobiográfico propõe que participantes reúnam e apresentem seus objetos e memórias, fazendo com que o museu ganhe um caráter de aproximação e familiaridade, conectando histórias de participantes e de seus grupos, comunidades, bairros e cidades.
Abaixo, confira a proposta do exercício Uma noite no Museu, adaptado a partir do trabalho e pesquisa de Viola Spolin:
O exercício consiste na criação do disparador: Pessoa Criadora e Obra de arte. Em duplas, as pessoas deveriam moldar um corpo numa estátua a partir de um tema eleito pelo mediador. Como resultado, após a montagem da obra, as pessoas eram convidadas a transitar na galeria, conhecendo outros corpos.
Uma memória interessante: todas as vezes em que era realizado, as pessoas relataram a dificuldade de receber olhares observadores. Mais do que ficar sem se mover, era o olhar que incomodava quem era visto e que engajava quem estava vendo.
Antes de chegar ao exercício, as pessoas participantes realizavam aquecimentos em duplas. Entre eles, o clássico de Viola Spolin do Espelho. Construindo uma linguagem para a oficina, renomeei a ação de improviso e conexão como: Eu me vejo em você.
Abaixo, excertos de experiências de composição feitas em roda que geraram imagens coletivas significativas para minha memória:
"Que hoje o museu se torne um ato
Que os objetos virem gestos
Pois mesmo em tempos indigestos
Está em disputa o passado
Que é uma batalha permanente
Trazer à tona o recalcado
Redesenhar velhos traçados
Todo passado está presente"
Para você que está aqui conhecendo o Museu Autobiográfico, desejamos saber mais de sua história. Acesse a página Contato e envie seus objetos e memórias de vida.